domingo, 3 de abril de 2011

Deja vú

Estávamos todos na sala, os olhares desviavam uns dos outros enquanto esperávamos o momento. Ninguém ousava um movimento ou falar alguma coisa, era constrangedor e ao mesmo tempo confortável. Não nos conhecíamos, nunca havíamos encontrado uns aos outros, mas algo fez com que todos nós estivéssemos ali, naquele dia e naquele momento.

Minha mão desceu pela coxa, transpirava e eu senti meu coração palpitando como nunca. Minha mente começou em flashes estranhos enquanto senti meu corpo ficando leve, então olhei para a porta da frente enquanto o vi chegar. Não me encarou, não me percebeu ali, mas eu senti que o conhecia, conhecia seus passos, sua forma de andar, seu jeito de parar na minha frente, seu modo de falar. Conhecia seus olhos.

E então, os meus se fecharam.

O seu perfume me levou a algum lugar longe, onde eu não poderia me preocupar com as coisas que me preocupo hoje. Consegui viajar milhas sem tirar os pés do chão e não foi concreto, mas eu senti seus lábios tocar os meus, senti seu abraço, senti seu calor em meu corpo, senti suas mãos. Enquanto abria meus olhos, os flashes diminuíam e eu o via sentar. Continuava concentrado em seu mundo e eu me firmei nele, olhei com atenção seus movimentos tentando entender de onde surgiu aquela sensação, aquela lembrança nublada e sem clareza.

Meu pensamento repetia a frase "olhe-me", enviei para a mente dele algumas frases soltas e sentia que ele poderia captar toda aquela sensação estranha.

De onde você vem? Fiquei pensando. E logo ele levantou a cabeça e me encarou com um sorriso discreto nos lábios, sorriso de lado que me fez ter certeza que eu o conhecia. Me perdi, me perdi completamente.

Havia apenas uma lembrança apagada na minha mente e aquele sentimento de deja vú, uma vontade louca de perguntar o nome, saber tudo sobre ele, mas...

Não costumava ser muito corajosa.

E então ele se levantou, me olhou pela última vez, sussurrou algo que eu não consegui entender, abriu o casaco e tirou uma arma, apontando para todos nós enquanto eu consegui filmar com meus olhos, a cena de todos nós indo ao chão em câmera lenta.

Eu não conseguia entender uma palavra sequer, minha mente trabalhava a milhões por segundo enquanto eu tinha aqueles flashes piscando junto ao medo que senti.

Os tiros começaram.

Os gritos também.

Uma jovem segurou a minha mão e suplicou para que eu pedisse para ele parar. Mas eu não podia, eu não sabia como... Sua mão apertava a minha enquanto meus olhos se fecharam.

"Eu ainda te amo"

Ele me olhou, parou com os tiros e então vi lágrimas descendo dos seus olhos.

"Suzanna?"

Meu nome não era Suzanna, mas senti uma necessidade enorme de dizer "Santiago...".

E então todas as pessoas desapareceram e enquanto o vi abaixar, soltei a mão da garota devagar...

"Me perdoe Suzanna, por não ter te protegido..."

"E você me perdoe por eu ter te deixado..."

E então comecei a ouvir novamente os gritos vindo ao fundo, enquanto senti o peso de um corpo em meu colo... Quando voltei a mim... Eu estava sangrando e ele também...

Minha respiração cessava aos poucos, as pessoas estavam em pânico e meu corpo se desligava minuto a minuto.

Na mão direita, segurava a mão dele, que por sua vez segurava a arma...

E seus olhos não desviavam dos meus ...

E seu coração batia tão devagar quanto o meu...

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