segunda-feira, 22 de junho de 2009

Ar


Retratos observam cada movimento
Dois pratos na mesa para acompanhar
Uma mancha sem tato no pano bem branco
Uma janela aberta com vento a soprar
Uma cama arrumada com canto sem nada
Uma casa tão cheia de esperança no ar.

Será que isso passa se o passo caminha
Será que machuca lembrar?
Dois pratos na mesa e um relógio cantando
Uma TV desligando
Um copo a quebrar

São vítimas de vida, que sai pelos dedos
Que se expremem na força de um amor contido
Que reprimidos permanecem feridos
Os dedos e os amores
Deslizando na mesa fria, no jantar
Esperando novamente alguém chegar

Ar.
Ar.

Só é preciso respirar.

E retratos na parede se escondem
Do universo paralelo que criou
Onde se arrasta pelos cantos
Se espera aproximar
Não se sente por inteiro
Se nem inteiro consegue ser.

Dois pratos na mesa, na pia, lavando
Dois olhos vidrados em qualquer ponto nu
A janela que fecha, a porta que tranca, a luz que apaga
O sono que chega, o abraço que despersa
Só é preciso sonhar.

Ar.
Ar

Só é preciso sonhar.

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