quinta-feira, 11 de setembro de 2008


Mesmo depois de muito tempo, acho que ainda há o que dizer...


Abriu a porta como talvez nunca houvesse aberto. Lançou o olhar aos quatro cantos da sala e sentiu o perfume dele no ambiente.
Deslizou os pés - agora descalços - no tapete grosso e confortável, passou as mãos sob a estante, dançou com os dedos sob a TV e sorriu sensualmente vendo seu reflexo na tela desligada.
Balançou o corpo ouvindo em sua mente a música que a deliciara tanto tempo e jogou-se em vários cantos da sala enquanto fechava os olhos lembrando-se do que mais a fazia sentir-se completa.
O sofá tornou-se palco e ali seu show começou a ser feito.
E seu coração pulsava a nostalgia junto a essência de tudo que lhe fazia bem.
Era bom ser feliz e nada poderia fazê-la sentir o contrário.
Pulou, caminhou até o corredor principal e aquele perfume ainda impregnado em cada centímetro de parede a perseguia e embriagava.
O chão gelado entrava em contato com os brancos pés da jovem e ela continuava com os olhos fechados, sorriso no rosto e mãos voando no mais alto possível e descendo - ora passando pela cintura, ora nos quadris que requebravam em ambos os lados.
Parou perto da porta do quarto e caminhou com os dedos finos de unhas bem feitas sob a fechadura e neste momento uma lágrima curiosa desceu pelo rosto alvo.
Encostou-se e abaixou-se devagar. Abraçou o próprio corpo - talvez na esperança de encontrar outro - e encolheu-se substituindo o sorriso por um rosto molhado e a dança pela contorção corporal.
Ela se comprimia ao tempo que a mão acariciava a porta branca.
- Por que tão cedo? - sua boca abria, a face se espremia e de clara, avermelhava-se.

A porta abriu-se. Seu corpo fraco por um sofrimento disfarçado ou mascarado caiu e não se moveu - a não ser pelos soluços.
Do alto ele via a cena da pessoa que mais amou em vida sentindo a maior saudade que se pode sentir.

Se pudesse, pularia de lá e agarraria seu corpo como jamais fez. Mas apenas via.

Esticava os braços, tocava com a ponta dos dedos a pele suave e delicada dela, mas ela não o sentia.

E tudo permanecia como estava afinal...

O quarto ainda arrumado para dois.
O guarda roupas com as mesmas divisões preservadas.
A casa exalando o perfume duplo.

Uma ausência imensa em cada centímetro quadrado.
Ela... Somente ela.

Ele não mais... Não em pessoa.

Tudo continuava. O lado dela se misturava ao lado dele. A música ainda tocava no player da sala, ela ouvia, sorria por lembranças, chorava por saudade...

Ele... esticava-se ao máximo tentando lembrá-la o quanto tudo lhe foi importante.



2 comentários:

olga disse...

Nem precisou eu dizer, você usou o verbo certo: lembrar. Porque na verdade ela sabe, só não lembra e por isso se sente mais sozinha.

Porque quem tem lembranças na verdade nunca está completamente sozinho (opinião extremamente pessoal).

A sensação de toque e movimento que vc consegue expressar continuam perfeitas, mas ao falar dos perfumes talvez fosse bom descreve-los um pouco mais. Tipo: "A casa exalando o perfume duplo" foi uma ótima sacada, mas se o leitor tivesse uma noção anterior dos perfume dele e dela ficaria ainda melhor.

Gostei da imagem,combinou bem.

Tva com saudade de lê-la *lembrando das overdoses*

=***

Alissu Deschain disse...

Esse faz tempo q eu deveria ter comentado. Não tneho muito a dizer... Gastei minha cota de coments por hoje.

Vc mandou bem quanto à saudade. Um texto bem DAIA.

É isso.

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