
Para ela o início de tudo havia sido duas semanas atrás. Quanto a ele, bom, não há muito para se dizer a respeito de um recomeço. Ela estava certa do que queria, mas no seu tato era possível sentir resquícios de receio e dúvida. Mas essas dúvidas ele às sanava: não haviam perguntas a serem feitas quando um encontrava o outro. Havia apenas o presente: tempo verbal que não poderia ter nome melhor.
Mesmo que dias atrás o início o tivesse parecido duvidosamente despropositado, sim, era fato (e isso não se pode negar) que a cada final de noite o seu dia estava se tornando mais bonito. Ele caminhava trôpego de volta para casa e a deixava com a certeza de que voltaria no dia seguinte. E essa era, de certa forma, uma despedida retórica, pois ambos sabiam que em questão de minutos um cabo e uma onda invisível os conectaria de novo. Essa era a parte emocionante: saber que, aos poucos, algo invisível estava os unindo. Ninguém falou em amor – são dois idiotas –, mas há coisas mais importantes para se discutir, como por exemplo, nada.
Agora, numa hora misteriosa situada entre o hoje e o amanhã, o escritor não sabe ao certo o que quer dizer. Depois de um suborno assombrosamente eficaz, que o encherá de lombrigas, ele tem a certeza de que o mesmo não se fazia necessário. E antes que ele pense que é algo valioso a esse ponto (e ele vai pensar, que eu sei) é preciso que se diga que qualquer sentimento que foi ou que será revelado é bem mais importante do que o orgulho de ambos. Se souberem respeitar essa lei, terão um ótimo começo para se lembrar depois.
Por fim, ainda sem palavras para continuar escrevendo, o escritor põe-se a pensar em coisas engraçadas e imagina uma cena brilhante, onde os jardins e as toalhas de mesa têm cores fortes, e o ar traz uma música suave. Nessa cena há alguém sentado a uma mesa com o olhar um pouco mais feliz do que dias atrás. Na sua frente há um cardápio francês, pousado em cima de uma caixa bonita, lacrada com um lacinho amarelo. Sua mão se move devagar, em direção a um dos dois copos de café que estão sobre a mesa. Ela está a esperar alguém. Alguém que chegará em 13 segundos. Alguém que chegou duas semanas atrás.
3 comentários:
O q dizer?
"O silêncio ainda é o melhor elogio"
Você vai entender melhor quando chegar no fim de Cegueira
e quando chegar no fim de Amor vai entender que eu esperaria mais do que 13 segundos
muito mais.
Assim como Daia... Sem palavras.
^^
Acho até que só caberia o coment de uma pessoa aqui.
Mas como leitor do Daniel, eu gostei.
\o/
Postar um comentário