Seus pés não se firmavam muito bem ao solo, ela desviava dos buracos e da destruição, a mão apertava próximo a coxa e seu olhar, obervava com diferença a "paisagem" cinza da cidade.
Ane não sabia para onde tinha que ir, havia colocado na mochila as garrafas e o baseado e assim ela seguia, carregando nas costas a única coisa que lhe sobrara. Não havia família, não havia amigos, não havia ninguém para incomodar.
Seu sonho havia se realizado.
Ela avistou na avenida principal vários carros parados, batidos, a poeira ainda subia do chão. Aquele cheiro de esgoto enjoava o estômago e a sujeira era maior do que já foi em qualquer época.
Todas as lojas estavam abertas, se esforçasse os olhos conseguiria ver muito mais que destroços, portas, carros e sujeira. Havia corpos.
Não era um caminhar uniforme, mas aos poucos ela conseguia chegar em algum lugar. Entrou em uma lanchonete, reparou com tristeza as mesas viradas, aquela neblina cinza no ar, aquela sensação de adeus.
Estava com fome. Era fome demais.
Procurou por todos os lados e o pouco de pão que encontrou no fundo, comeu.
Era uma solidão quase indescritível.
Ela então sentou-se em uma das cadeiras do lugar, jogou a mochila no chão, abriu e puxou uma garrafa e quebrou-a no canto da parede.
Eram lágrimas que desciam de seus olhos, semelhante a raiva e a dor que ela sentia.
Segurou com toda a força aquele caco de vidro grosso e mirou para o pulso.
Com os olhos fechados, Ane pensava... Lembrava do tremor, das paredes descendo, da mãe gritando e de sair de casa em seguida e não conseguir encontrar nunca mais as pessoas que ela amava.
Ane lembrava daquela cena final e de ter restado, sem saber na verdade, porque ainda estava tão forte diante de tanta destruição.
continua...
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