sábado, 4 de julho de 2009

O velho da praça

Naquele banco de praça, abandonado há alguns dias, empoeirado e cheio de saudade, me sentei por um momento.
Esperava qualquer coisa acontecer, junto ao ônibus que deveria chegar em meia hora. O pensamento voou, viajou pra algum lugar que apesar de não ser tão longe me jogava sempre mais distante de onde eu deveria estar. Apertei as mãos nas coxas como quem diz a si mesma - acorda!.
Fiquei presa nessa indagação de "serás e porquês" enquanto um senhor curvado e silencioso sentou-se ao meu lado. Ajeitou a bengala nas mãos trêmulas e suspirou enquanto olhava para o lado oposto. Tirou um lenço do bolso, enxugou o rosto suado e pigarreou com calma, equanto o devolvia ao local de origem. Virou-se e comentou.
- É. O tempo tá passando né?
Assustei, porque de fato ao tempo que prestava atenção nos movimentos dele com minha visão periférica, estava ainda fixada em algum ponto perdido, na semana que passou, nos destinos, nas mãos, nas palavras, enfim.
- Hum? É, é... é verdade.
Encolhi mais no banco, olhando para a rua.
- E a gente nem sente...
Acho até que me incomodei por querer tanto viajar naquelas questões filosóficas da minha mente, mas aquilo de certa forma fazia parte de tudo isso. Parei por um tempo olhando de lado, a respiração que cessou por uns instantes e tudo pareceu se contorcer em meus olhos, refleti.
- Não sente mesmo. Passa e não sente.
Fiquei parada, olhando o nada percebendo que não vi o tempo passar.

Ele sorriu de leve, ajeitou denovo a bengala nas mãos e virou.
- É que a gente perde muito tempo ocupado com "coisa pouca".

Aquilo não me fazia o menor sentido, já que naturalmente não se sente o tempo passar porque os afazeres do dia a dia nos deixam completamente alienados dos dias em si, focados somente em algumas tarefas diárias.
Pensei em questionar, mas para mim, naquele momento, ele era apenas um senhor sem saber muito o que estava dizendo. Apenas murmurei.

- Hm..

- Você não se dá conta de quanta coisa boa poderia estar fazendo enquanto se preocupa com o que menos precisa...

"Ai!"
Parecia um martelo batendo na minha cabeça.
Virei e olhei para ele pela primeira vez, de frente e sem medo, desde que ele sentou-se ao meu lado.
- Porque está me diz....
- E o que será amanhã minha jovem? - ele me cortou.

Paralizei.

- Como?
- O que será de sua vida amanhã? Para onde vai seu destino?

Quase gaguejei, mas na verdade por alguns segundos não conseguia falar. Comecei a realmente me perguntar isso, o que faria, o que seria, o que aconteceria, mas eu... Pobre de mim, não tinha poder nenhum em saber isso.

- Meu senhor, eu não sei.

Ele riu.

- Está certo. Você não sabe! Eu também não, minha querida. Mas, bom.... Foi um prazer falar com você, vou indo agora terminar minha caminhada.

Olhei a dificuldade com que levantara, acenou um tchau com gosto e sorrindo partiu pelas ruelas da praça.
Apenas observei os movimentos milimetricamente calculados pela mente do velho.

O que seria de mim?
Ah, eu não sabia.

Não sei ler o futuro. E isso ele bem conhecia.
Mas o que o velho queria me ensinar e eu não aprendi de fato...

Não sei ler o amanhã, mas sei fazê-lo, porque tudo aquilo que eu faço invoca uma ação do futuro.

E o que não faço...
Infelizmente também.

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