quinta-feira, 25 de junho de 2009

A história de Alice

OUVEAE!

Ela pensou em escrever sobre eles.
Sobre a combinação do azul com o vermelho.
Sobre a multidão que invadia a sala.
Sobre o ônibus.

Começou a imaginar a cena delicadamente. Alguns flashs em seus olhos, a música em seus ouvidos e suas mãos segurando o corpo antes que tudo fosse ao chão.
Muita gente unida, os corpos próximos demais empurrando uns aos outros, freadas e corridas em segundos e balançavam devagar.
Fitou a paisagem cinza que a chuva molhou. Começou a pensar na vida de algumas daquelas pessoas. Quem sabe quem estaria do outro lado esperando a senhora à sua frente, quem choraria após o cara la da frente acenar o assalto do veículo.
Atentados terroristas.
Bombas presas ao freio.
Qualquer outro desastre comum às 42 pessoas dentro daquele ônibus apertado.

Começou a bolar o plano de texto desde o momento que fez a primeira curva. O cara ia se levantar e atirar. Todos iriam se empurrar para o fundo do ônibus e alguns cairiam no caminho. Alice ia se assustar como nunca e no final, sempre alguém sente falta de alguém.
Desistiu da idéia e outras cenas tomaram conta.
Poderia um caminhão desgovernado bater na lateral do ônibus, poderia o ônibus perder o controle.
No fim da história todas as pessoas coladas ali, estariam de corpos soltos num amontoado de dor. Um choro ia chamar a atenção e tudo seria cruel.
Então Alice pensou no choro.

"- Mãe! Mãe!"

E havia mesmo uma criança na sua frente.

Deixou tudo de lado e não quis que ninguém sofresse desta forma, mas logo, planejou uma explosão.

"Acabo de descer do ônibus..." - pensou Alice. "... E tudo vai pelos ares!".

De todas as formas, Alice iria abraçar alguém no final ou faria alguém sentir sua falta.
Era isso que ela queria afinal.

Chamar atenção.

Então Alice desceu do ônibus, caminhou entre as ruas molhadas e foi para casa.
Sentou na frente do seu computador e escreveu uma história.

A história do ônibus que não faz nada, além de derreter suas idéias em um monte de dúvidas sobre a existência, sobre as pessoas que estavam com ela a pouco tempo atras, sobre os destinos e circunstâncias.

A história cruel de um namoro que nunca existiu porque a menina lá do fundo não olhou pro lado.

A história do cobrador que esperava sempre pela mesma moça entrar pela porta da frente, olhava poucos segundos para ela, pensava no lindo futuro dos dois e esquecia tudo em seguida.

A história da senhora que nunca voltou para casa porque aquele mesmo ônibus que levava 42 pessoas estava indo de encontro à qualquer lugar, menos o caminho de seu lar.

A história da menininha pequena.

Dos trabalhadores cansados.

E de uma mente que trabalhava a cada curva na estrada.


=)

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