sábado, 30 de agosto de 2008

Ele

“... e é isso que pode acontecer...”

Ele guarda segredos, eu sei. O vejo todo dia passando na mesma rua, cabeça baixa, sem dizer uma palavra sequer.
Passa.
Do outro lado, a loja permanece aberta até as 8 e a vendedora sempre suspira. Mas apenas
suspira.
Na esquina a menina espera o sinal fechar para atravessar a rua. Vê o moço passar e suspira.
Apenas suspira.
No carro, a senhora arruma os cabelos brancos e enche os pulmões de um ar teoricamente puro.
Pisca lentamente,
aperta as mãos enrugadas e abre um pouco a janela.

E eu estou
aqui escrevendo sobre ele e ele nem imagina.
Talvez não imagine porque não
exista.
Talvez não exista porque apenas o
imagino.

Talvez
ambos.

Mas ele abre o portão da sua casa.
O cachorro pula, ele abaixa e brinca um pouco sentindo o tempo passar na própria estrutura.
O cachorro percebe e
se afasta.
Ele percebe que o cachorro sabe, e se afasta.

Na sala apenas um vazio grande. Todas as caixas arrumadas para a mudança e uma luz fosca entra pela janela suja.
Sobe as escadas - poucas - e entra no quarto desajeitado.
Encolhe-se na cama deixando as lágrimas -
que há tempos gritavam por liberdade - cair e rolar pela face clara.

A moça da loja está indo para casa.
A menina da esquina está indo para casa.
A senhora está abrindo o portão.

Então a sala com tantas coisas encaixotadas se enche.
E menina fecha as menores, a moça as maiores e a senhora embrulha os objetos mais delicados.
Nenhuma delas
ousa comentar que vira o jovem na rua mais uma vez, mas ambas sabem que ele esteve ali.

E a única coisa que não é igual em seus pensamentos é a última
lembrança dele.
A menina o viu fechar a porta.
A senhora o ouviu chorar.
A moça o encontrou deitado ao chão.

Suficiente para formar a história e impulsionar a mudança.
Porque quando alguém decide partir dessa forma não há muito o que fazer...

Ou você permanece no lugar onde está deixando aquela dor crescer e crescer...
Ou você foge se livrando do
fantasma de sempre.

E vê-lo?
Bem...
Interprete como quiser...

Quem sou eu?
A pessoa que mais
o amou no mundo...
Que diferente dele... Não escolheu
partir.

2 comentários:

Anônimo disse...

Eu não sei como...
Putz, eu não sei MESMO.



"Palávras são lágrimas,
e por isso as uso.
Eu confundo o tempo,
Sufoco a dor..."

Alissu Deschain disse...

Daia.

Gostei.

Meus coments voltara a ser curtos.

Por hora.


Vc gosta mesmo de escadas.

^^