sábado, 27 de agosto de 2011

Sentimentos

"Caminhava lentamente olhando os pés bagunçar algumas pedras no chão, dançava com as mãos no ar enquanto cantarolava alguma canção antiga, pensava constantemente em um absoluto nada, contrastando com suas decisões difíceis, seus dias passando, sua vida voando. Ela se sentia sozinha, parecia realmente que todo mundo havia se esquecido dos seus sonhos e que enxergar quem ela era, parecia tarefa quase impossível. O frio na barriga por vezes sumia, pensava então que estava se recuperando, que a dor de um passado intenso estava passando e que embora só, pudesse se fazer feliz, mas então chegava um novo dia, uma nova espécie de sentimento, um novo nó na garganta e ela voltava a cantarolar olhando os pés no chão."

- Mas porque ela não olhava para frente? - Perguntou o jovem.

- Acho que ela não aceitava ser como era, sentir-se tão necessitada de sentimentos, dar tanto ênfase no amor...

"Então ela se sentava em qualquer banco de praça, observando com calma o movimento das pessoas a sua volta, na sua cabeça algumas dúvidas sempre surgiam e ela acreditava tanto em destino que a fazia refletir. Talvez quem sabe estar ali, naquele momento, a faria encontrar a pessoa ideal, quem sabe pegar o caminho da esquerda e não o da direita a levaria para a cura de algumas feridas não deixadas para trás. E ela se colocava a caminhar novamente, cabeça baixa, percebendo o caminho a sua volta e onde quer que ele a levasse. Tantos planos adiados, tantas coisas a serem organizadas, tantas gavetas desajustadas em sua mente, tantos "porquês" girando no contorno de suas dúvidas, tantas chances deixadas e oportunidades repensadas. Aquele sentimento de desconfiança a guiava há alguns dias, quem dera ela o fizesse desaparecer e poder entregar-se ao que quer que acontecesse em sua vida, mas doía sequer imaginar o dia de amanhã, então ela se fechava em um casulo dolorido, escuro e úmido, ecoando como sempre as mesmas histórias."

- Não entendo. Porque motivo uma pessoa adia sonhos e desconfia tanto da vida?

- Acontece que ás vezes alguns tropeços fazem a gente ter medo de caminhar livremente.

- Mas é uma boa ideia ter tanto receio?

- Nem sempre, mas acho que na cabeça dela é a única chance que ela tem de se proteger.

- Não acho, acho que ela se arrisca demais em não se arriscar.

"E logo, quando chegava em sua casa, descansava seus pés e refletia em um dia quase terminado, nas coisas que talvez ficaram melhores abandonadas onde estavam e nas coisas que ela queria trazer para si de qualquer forma. Nas forças que poderia usar para conquistar seus objetivos, nas indagações constantes que permaneciam correndo sua mente, e então no grande amor guardado no peito, louco para explodir, louco para encontrar um canto e se aconchegar. Mas realmente, ela tinha um medo incrível, e ela a cada momento que passava, amassava mais e mais esse amor, no mais fundo do peito que fosse possível. Escondia-se atrás de um sorriso diário qualquer, distraia-se e disfarçava os sentimentos, pois aceitá-los era complicado. Acho que ela era um tipo de problema a ser resolvido por si mesma, uma incógnita indecifrável, um "e se" sempre presente, um daqueles casos que você só resolve em uma manhã de domingo depois de uma noite bem dormida. É difícil não aceitar o que se sente, ter medo do que se pensa e receio de dar um passo, mas ela era isso... Uma espécie de dúvida no ar observando o ambiente á procura de alguém.”

- Quem?

- Ninguém sabe, mas ela teima em descobrir. Quem sabe onde, quem sabe como, embora tantos medos existam, acho que todos nós nos encontramos em algum momento, determinados a seguir em frente ou um ao lado do outro... Cabe a nós decidir.

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