
"- Quer ajuda?
- Precisa não minha fia, tá tudo bem.
- Quer que eu ligue a TV?
- Não precisa não, passa nada que preste essa hora. (pausa) Quem é que vem lhe pegar?
- Minha mãe. Deve tar já chegando.
- Sei...(pausa) ow minha fia, abra ai essa porta e esses purtilhi. Pronto...é pra ver se corre um ventinho.
- É, tá quenteviu!?
- Demais. (pausa) Sabe Olguinha...tava pensando em começar a vender umas coisa aqui, umas redes, uns pano...sabe?
- Mas num vai dá trabalho não Vó?
- Não, dá não...é só deixar as coisa ai, o povo chega, olha e leva. Sempre tem alguém que precisa dessas coisa.
- É, pode ser uma boa. Só tenha cuidado pra não ficar fazendo esforço demais.
- Não, né nada de mais não. Só mandar a Maria comprar as coisa.
(pausa)
- Minha fia, e o noivado?
- Noivado? Que noivado?
- O seu ora mais!
- E onde já se viu noivado sem o noivo Vó?
- Minha fia, na sua idade eu já tinha pelo menu uns três
- Eu sei Vó, mas pra mim a coisa não tá boa assim não
- Então os homem de hoje tão tudo é cego...
- Deve ser.
- Será que eu vejo teu casamento ein?
- Vê, lógico que vê!
- Se Deus quiser. Se Deus quiser a Vó vai melhorar.
- Vai sim, se preocuoe não.
(som de buzina)
- Mainha chegou Vó, eu vou indo. A bença...
- Ow Maria! Olguinha já vai, abra ali o portão pra ela...Deus te traga boa sorte minha fia. Você volta quando por aqui?
- Não sei, acho que só em janeiro.
- Então tá certo. Mande um abraço pro seu pai e pra todo mundo.
- Pode deixar, tchau, fique bem!
- Tchau."
Foi a última vez que a vi.
E hoje ela não está sentada na sala, perto da porta, esperando o calor passar.
Nem hoje, nem nunca mais.
"Sabe Olguinha"
"- Será que eu vejo teu casamento ein?"
4 comentários:
Agora eu sei, realmente, pq seu dia não foi dos melhores.
Bom, eu com uma boa experiência d vida nesse ponto posso dizer com clara convicção d q essa é uma dor que ameniza, mas sempre volta... e qdo digo q volta, volta mesmo.
É como ver a pessoa parada na sua frente, dizendo todas aquelas coisas q só ela sab dizer e d repente um beliscão da realidade te acorda.
Triste.
Mas ela vai ver seu casamento, de ond ker q esteja...
Nem q for diretamente d seu coração, através do filme feito pelo seu próprio olhar...
E tenha ctz...
Não há lugar melhor para se assistir um momento tão importante.
=)
Bjos Olga.
Keep writing.
=***
Emocionante Olga.
Tenho muito a dizer não.
Eu morei um tempo com minha avó, quando era criança... Deixei de morar por motivos que depois eu lhe conto (se é que já não contei).
Me tocou muito seu texto.
=*
(...)
Os bons resultados dos nossos ditos e obras vão distribuindo-se, supõe-se que de uma forma bastante uniforme e equilibrada, por todos os dias do futuro, incluindo aqueles, infindáveis, em que já não cá estaremos para poder comprová-lo, aliás, há quem diga que isso é que é a imortalidade de que se tanto fala.
(...)
José Saramago, Ensaio sobre a cegueira.
(Silêncio)
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